segunda-feira, 14 de março de 2011

Em paz

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida, porque nunca me deste esperança mentida, nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.

Porque vejo, ao final de tão rude jornada, que a minha sorte foi por mim mesmo traçada; que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas, foi porque as adocei ou as fiz amargosas: quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.

Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno: mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas achei, confesso, minhas noites de penas; mas não me prometeste noites boas, apenas, e em troca tive algumas santamente serenas…

Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais? Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!

Amado Nervo - Poeta Mexicano

"Viva o dia da poesia!"

2 comentários:

R. disse...

Me lavou a alma, biguá velho...

Nunca esquecer do pressuposto zero - as coisas poderiam simplesmente não-ser...

Vontade de copiar num manuscrito esse poema, umas cem vezes...

ToN disse...

As coisas não são! Assim partirmos, desconfiando, procurando as pegadas... Como diria Buda: "a mente está além do uso". E a vida preciosa serve para nos ensinar, simples assim...