sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quatro anos a partir de agora, um professor de história, será também.

Poema em linha reta


[538]

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa (Álvaro de Campos).
Conheço bem as diferenças da razão e das Mulheres, que me atrevo a discorrer em poucas linhas:

A razão é quadrada, angular, reta.

A Mulher é redonda, circular, curva.

E que curvas!

Rebola, fala mansamente e os olhos brilham.

Sua inteligência e charme a diferem da casmurrice retangular da razão.

Mulher é samba, melodia, o intervalo entre o som e o silêncio.

Razão é trovão, buzina, paralelepípedo, octógono, fúria.

Assim, razoavelmente, não há como viver somente de razão.

Que seja, sim, do movimento de rotação e translação das doces Mulheres!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


Pequeno Esclarecimento

“Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. 
O de que eles mais gostam é estar em silêncio – um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. 
Um silêncio… 
Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.”

Mário Quintana

sábado, 2 de fevereiro de 2013


"Não quero dizer com isso que havia deixado de amá-la, que a esquecera, que sua imagem desbotara; ao contrário; ela morava em mim dia e noite, como uma silenciosa nostalgia; eu a desejava como se desejam as coisas perdidas pra sempre."

A Brincadeira – Milan Kundera