quarta-feira, 21 de outubro de 2009

COPA DE 82 - O EU ULULANTE

Não bastasse o atrevimento em escrever algumas crônicas futebolísticas – admito não ser bom em quase nada, portanto não é esse o objetivo – contarei a minha experiência com o esporte bretão, minha primeira lembrança, digo. Morávamos em Porto Alegre, cidade onde nasci e que muito me inspira, na avenida Ipiranga. Passei meus primeiros anos lá, e de lá tenho minha primeira imagem de futebol: a Copa de 1982 – século passado e talicousa.. assim, aos jovens, procurem na wikipédia, beleza manos? Era a copa de 82 e, anos mais tarde, fui entender o porquê daquela seleção ser tida como a maior de todos os tempos. Era repleta de craques. Caras que nasceram para destruir, construir conceitos e pintar suas obras nos gramados, despertando aquela sensação de que algo sobrenatural está acontecendo com aquele ser humano. Para citar alguns: Falcão, Sócrates, Júnior, ZICO... Era impressionante. No dia do jogo contra a Itália, fui sacudido alucinadamente pela minha mãe e meu pai, na época eu tinha 4 anos, após o gol de Falcão. Um golaço. Naquele momento, e não sei como, ficou gravada a imagem do camisa 5 saindo comemorando e, como em um passe de mágica, eu estava na rua com meus pais e todos os vizinhos pulando em festa pela conquista da seleção. Sentia-me um ganhador, um vencedor junto com aquela seleção. Clamava por ser jogador daquela seleção, afinal sou brasileiro e ali estavam nossos representantes. Mal sabia eu que àquela hora era intervalo do bendito jogo. Como tudo na vida, quase tudo... aquela seleção era arrefecida de vigor. Carecia de uma defesa sólida. Em outras palavras: o ataque era incrível, porém faltava os caras do trabalho sujo. E a seleção perdeu aquela Copa – sua classificação – justamente para a Itália. Não tenho essa lembrança da perda, daqueles vizinhos e meus pais chorando, por exemplo. Anos mais tarde “comemorei”, finalmente, a primeira Copa e contra a velha Azurra. Desta vez, os caras carregaram o piano e definiram uma nova mentalidade à seleção brasileira. Lembrança alguma de grandes comemorações da Copa de 94 ficou gravada, ao menos uma que desbancasse a da minha infância no ombro do meu pai, agradecendo ao Falcão e cia pela brilhante seleção e pela marca de apaixonado por futebol, que ali, em 82, ficou registrada no meu DNA.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conto Zen

Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua - com uma grande dúvida:"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"

O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta."

O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"

"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."

"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"

"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."

O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.