As certezas que temos nessa vida são poucas. O homem ser apaixonado por carro é uma delas. Pode ser rico, pobre, preto, branco... até senador gosta, sim até “eles”... E Paulo não fugia a essa regra. Ele era um tipo comum, mas jogava como meio-campista. Um paradoxo. Tipos comuns não são meia-atacantes. Paulo era. Tinha uma habilidade sem precedentes com a perna esquerda. Seu drible: um corte seco para dentro com a canhota e, logo em seguida, um toque com a direita para fora, rolando a pelota para frente. Tudo na passada marcada da corrida que desabalava para fulminar o goleiro adversário, com seu potente chute proferido por sua sinistra inferior. Mas Paulo em um ponto era excêntrico. Paulo tinha um Chevette Tubarão, ano 76, motor 1.4, de cor bege. A particularidade não era a "chevettera", se acaso pensou. A particularidade da paixão de Paulo era que seu Chevette não possuía tranca alguma nas portas, suas janelas nunca fechavam e a 3ª marcha já não engatava. Caras habilidosos, na várzea, tem um Gol, um Pálio, um Peugeot... Não um Chevette sem tranca!!! Contam que em um campeonato, certa vez, Paulo deixou seu Chevette ao lado de outro Chevette, o do Zé Polca, ano 82, hatch, motor 1.6, cor hortelã. O carro do Zé, um mimo, altamente protegido com trancas e alarmes. Resultado. No no fim da churrascada pós-jogo, o Chevette do Zé havia sumido, evaporado. Não há dúvida que o cara que roubou o Chevette do Zé Polca não foge a regra. Por isso Paulo riu. Afinal, havia vencido a partida, marcado dois gols com seus dribles desconcertantes e sua paixão estava esperando, toda aberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário